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Reflexão humanamente inteligente


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Os nossos dias correm velozes e surpreendentemente matizados por novidades inteligentemente artificiais.

Talvez o debate de como isto poderá alterar as nossas rotinas e hábitos socialmente adquiridos esteja longe de ser suficientemente esclarecedor.


Não sou expert da transformação digital. Como tantos outros semelhantes, tenho, ao longo da minha vida pessoal e profissional, entendido e vivenciado que o digital está presente nas nossas vidas, que apoia na celeridade e organização das tarefas, que são raros os processos alheados do digital. Nesse campo, a experiência é pacífica.


O que agora se instala, silenciosamente, é de outra dimensão e amplitude: o digital casado com a inteligência artificial. O imediatismo das soluções e resultados é assustadoramente perceptível quando comparado com a capacidade humana de pensar, estruturar e criar. O que sairá desta disputa humano versus máquina? As respostas não são imediatas.


Podemos aceder a diferentes linhas de análise e resposta. Uma delas será negar e achocalhar dizendo que jamais a máquina – ou a linguagem programada que a integra – nos igualará na capacidade, juízo crítico ou mestria das relações interpessoais.


Embora sendo uma via apaziguadora – pelo menos a curtíssimo prazo –, muito rapidamente se converterá num tornado que nos alheará. Diz-nos a história, em muitos momentos, que ignorar e ridiculizar não faz as questões desaparecerem.


Uma outra via será a de reunir informação credível, analisar, debater com pares e não só... optar por experimentar, meter as mãos na massa para perceber o que é, como é e o que apresenta. Não quer isto dizer que nos tornemos uns nativos artificialmente inteligentes! Inteligentes, somos à nossa maneira e, com esse perfil, podemos ter a nossa opinião e juízo sobre a matéria.


Não, ainda não estou assustada perante a ideia de a IA me substituir nas minhas tarefas. Mas já me inquieta quando demoro 20 minutos a elaborar um texto, e em poucos segundos, com uma acurada prompt, esse desígnio está terminado em poucos segundos. Sim, esse texto artificialmente criado é sujeito ao meu crivo, mas, entretanto, os 20 minutos de combustão mental e gestão emocional da folha em branco deixaram de ser vividos. E isso pode ser rapidamente inquietante – para evitar a palavra “assustador”.


Escreveu, um dia, Peter Drucker que “a melhor forma de prever o futuro é planeá-lo”. Acredito que, quando o escreveu, ainda não se viviam com intensidade as condições de contexto voláteis e repentinas que hoje vivemos. Hoje, lidamos com uma velocidade estonteante de recursos, decisões, acções. O tempo de pensar e reflectir deixou de ser vivido com a qualidade esperada. Urge pensar, comunicar, decidir em pequenos e rápidos fragmentos de tempo. As acções são disso o reflexo... e por vezes temos de voltar atrás e rectificar porque fomos demasiado repentinos no processo anterior de conceber. A inteligência artificial pode, quiçá, apoiar na fase de concepção em complementaridade com a nossa capacidade de gerar ideias e insights. Teremos sempre a vantagem competitiva de conhecer o contexto na sua totalidade e, por esse motivo, talvez nos possamos tranquilizar que a IA não nos vai “substituir”. A palavra “substituir” atormenta qualquer ser quando não se percebe o motivo dessa substituição - acontece profusamente na nossa vida pessoal e profissional e não tem mal nenhum... O cerne do penoso está quando não nos explicam com argumentos e evidências a razão da preterência. No caso da IA, será mais prudente perceber em que consiste, as suas potencialidades e ameaças, identificar os pontos de ancoragem e de aliança e criar o posicionamento onde nos distanciamos e/ou diferenciamos. Essencialmente, fazer este caminho com propriedade – investigando, escutando opiniões, recolhendo dados –, experimentar algumas ferramentas de IA, formando a nossa opinião, e tomar as melhores decisões.


A IA chegou e não foi hoje! Se ainda não reflectiu sobre este tema, faça-o agora. Daqui a pouco, já se pode ter dado a substituição.


Este artigo foi escrito ao abrigo do antigo Acordo Ortográfico.

Revisão de texto realizada porJosé Ribeiro

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