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Formação à distância: mudar pensamentos, transformar comportamentos, planear acções

  • Foto do escritor: Sandra Dias
    Sandra Dias
  • 25 de jun. de 2020
  • 4 min de leitura

Atualizado: 15 de jul. de 2020


Formação dinâmica
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Creio ser quase impossível escrever palavras inócuas quando escrevemos um artigo. Há alguns anos que uso a escrita, pessoal e intransmissível, pela qual me responsabilizo, para partilhar ideias, pensamentos e reflexões.

Cada um é responsável por aquilo que comunica e pelo impacto que as palavras têm. Creio que este artigo será um dos que mais assumem um carácter de responsabilidade pela sua natureza experiencial.

Existe, certamente, um mundo, ao qual estamos ligados pela memória e vivência, antes de uma pandemia se ter instalado e mudado, de um dia para o outro, todas as nossas rotinas e hábitos. Existe, certamente, um novo contexto em que foi necessário adaptar os processos e modos de agir para que pudéssemos continuar a manter a nossa estabilidade e crescimento pessoal, social, organizacional. No meio da “borrasca”, naturalmente, houve momentos em que agimos por impulsos e reacções automáticas para garantir a sobrevivência e a continuidade. Contudo, já passaram alguns meses… e talvez seja o momento de passar da reacção à acção.

Tenho o privilégio de estar ligada ao mundo da educação e formação de adultos há muitos anos, em contextos formais, não formais e informais. Aliás, comecei pelos contextos não formais, onde a riqueza das aprendizagens é mais densa do que alguns possam pensar. Até nos contextos informais, as aprendizagens são significativas e valorativas e, por vezes, bem mais vinculativas do que as restantes.

Vivi muitos registos de políticas públicas, oscilando entre a valorização e/ou o seu contrário na educação e formação de adultos. Experienciei muitos “nomes estratégicos” e muitas linhas de orientação.

O que experienciei nos últimos meses conduziu-me num processo interior complexo de reflexão e desconstrução da formação à distância. Confesso que posso ter sido resistente à possibilidade; que me confortei demasiado num espaço físico; que incorporei hábitos; que valorizei única e exclusivamente o modelo presencial. Em Março de 2020, a “sala de conforto” deixou de existir: foi fechada a porta sem que houvesse uma perspectiva de quando se voltaria a rodar a chave. As rotinas mudaram, a agenda, cheia de desafios, começou a ser rasurada com “acção cancelada”, “acção suspensa”...

Quem trabalha em exclusivo na formação irá perceber o que significam estas rasuras – vida em suspenso com a vida a correr. Um paradoxo que, nos primeiros dias, tirou o sono, gerou dificuldade em respirar, falta de apetite, redução de paciência, entre outros sintomas. A emoção do medo na amígdala, os pensamentos em espiral, as emoções, todas em uníssono, a comandar as acções.

E neste ponto entra a consciência de que ficar imóvel – à espera que tudo passe, à espera de um Estado Social para o qual contribuímos diligentemente, à espera de que resolvam os nossos problemas – será a opção mais enredada que poderíamos escolher.

Desenham-se os planos B, C, D... e aquela modalidade da qual fugimos – sem ter algum dia reflectido sobre o motivo – apresenta-se como a alternativa: não é uma, é a alternativa. Estávamos em confinamento obrigatório e (quase) total.

Assumindo e aceitando a minha vulnerabilidade e medos neste registo, a opção por uma formação para adquirir e actualizar competências era o caminho. Em boa hora! Com esforço? Sim. Com muitas horas à frente do computador? Sim. Com muitas dúvidas? Sim. Com muita perseverança? Sim. Com muito trabalho interior de reconfigurar pensamentos para transformar ameaças em oportunidades? Sim. Com vontade pontual de desistir? Sim. Terminei o curso? Sim. Foi importante? Sim. Foi essencial? Sim.

Neste campo, agradeço a duas pessoas, que foram essenciais neste processo: Julien Diogo e Rita Afreixo Silva. Agradeço, também, a todas as pessoas significativas que me foram apoiando em sms, e-mails e telefonemas. O Universo sempre compensa com o necessário valor acrescentado quando nos dispomos a dar os passos. E não há como uma pandemia para perceber onde estão as pessoas que nos querem bem!

Tive o privilégio e oportunidade de iniciar em Maio um projecto de formação à distância. Emoções do primeiro dia? Complexo de identificar, pelo tamanho e forma do emaranhado. Medos? Muitos! Receios? Muitos! Vontade de fazer acontecer? Muita! Consciência de que me tinha dedicado e esforçado? Plena!

Agradeço a cada pessoa com quem me “cruzei”. Tive a sorte de conhecer e trabalhar com formandos de uma generosidade inesgotável, com uma dinâmica colaborativa agregadora. Bem hajam! Tive o enorme privilégio de encontrar pessoas que entendem a formação como uma oportunidade, de aceitar o novo, de analisar, de partilhar, de comunicar. Feliz a Organização onde estão profissionalmente integrados! Desejo que vos saiba reconhecer e estimar!

Compartilhada a experiência, regresso ao título “Formação à distância: mudar pensamentos, transformar comportamentos, planear acções” para finalizar a reflexão:

  • Formação à distância é melhor ou pior do que formação presencial? É diferente!

  • Por ser diferente, implica analisar o registo mental, transformar a atitude e comportamento? Sem dúvida!

  • Implica repensar as estratégias de formação? Sem dúvida!

  • Dá trabalho? Se “dá trabalho” for a inquietação, é tempo de mudar de área profissional!

  • Tem os mesmos resultados de aprendizagem? Quer no modelo presencial quer no modelo à distância, os resultados estão sempre relacionados com os processos, as estratégias e o investimento!

  • É possível? Creio que as evidências respondem por si!

  • Precisamos investir noutros domínios? Creio que percebemos todos o que sabíamos e que nos fizeram crer de outra forma!

  • O que (não) sabíamos? Que no nosso país há um enorme desfasamento na igualdade de oportunidades no acesso, passível de comprometer o sucesso. Numa sociedade que nos dizem ser digital, que se apresenta como “simplex”, chegamos à conclusão de que nem todas as pessoas têm computador, câmara, microfone, acesso à internet, impressora, scanner...

Talvez seja a hora de pensar o desenvolvimento de forma estruturada e sustentada. O investimento tem de ser pensado de forma genuinamente estratégica – primeiro as pessoas, perceber as suas reais condições de vida. Nenhum país se pode considerar desenvolvido com tamanhas e abissais desigualdades. Elas já existiam: um vírus só as tornou (mais) evidentes. Elas sempre estiveram lá: a cegueira simbólica em que nos enredamos é que as fez parecer um acervo de fotos de arquivo na Torre do Tombo.

Formação à distância? Sim. Abandonar o presencial? Não. Manter a oferta em individual ou híbrido? Decisão de cada Organização.

Escreveu Peter Drucker que “a melhor forma de prever o futuro é planeá-lo”. Cada hora desperdiçada no limbo do planeamento são oportunidades que se escapam. E se tivermos que alterar os planeamentos? Bem, a isso chama-se capacidade de análise e flexibilidade. Em suma... resiliência!


Este artigo foi escrito ao abrigo do antigo Acordo Ortográfico.Revisão de texto realizada porJosé Ribeiro

 
 
 

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