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O que podemos reflectir com “Deus existe e vive em Bruxelas”

  • Foto do escritor: Sandra Dias
    Sandra Dias
  • 12 de mar. de 2019
  • 3 min de leitura

O filme “Deus existe e vive em Bruxelas” é uma intrépida alusão à questão humana, peculiar e tão individual, que se prende com a gestão de tempo e a tomada de consciência do que este significa, enquanto património finito. Vivemos como se fôssemos imortais, quando, na realidade, somos mortais desde o momento em que vimos a luz do dia pela primeira vez.

Porque escolho a palavra “intrépida” para caracterizar esta obra? Porque é uma obra cinematográfica feita de coragem, ao abordar a morte como uma circunstância da própria vida; ao abordar as expectativas e os sonhos que adiamos por acharmos que ainda temos muito tempo; pela (in)definição de objectivos, que descartamos ou implementamos sem pensar; pelo conformismo a que nos sujeitamos como se aceitássemos as leis do Universo.

Neste filme, Deus é uma personagem magnânima, mas pérfida, que dedica o seu tempo a criar regras, diariamente sentado em frente ao seu computador; regras que apenas têm como objectivo infligir nos outros sofrimento ou desconforto. Este poder dá-lhe satisfação, um entusiasmo sem precedentes, que perde, ironicamente, quando ele próprio é sujeito a estas regras. Encontramos logo aqui um irónico paralelismo com algumas personagens da vida real que se consideram poderosas por ditarem regras que fazem os outros infelizes, muitas vezes sentados em frente ao seu computador. O Deus deste filme não passa de uma criatura solitária, infeliz e pouco dada à felicidade dos outros.

A ironia das leis em apreço:

  • Lei 21/20: “Quando um corpo entra na banheira, o telefone toca”;

  • Lei 22/18: “A fila do lado avança sempre mais depressa”.

Porém, Ea, filha de Deus, com 10 anos, vai desafiar este statu quo. Revoltada com os males que o seu pai aplica à Humanidade, protagoniza uma pequena vingança, enviando as datas da morte, e todas as pessoas recebem um sms com a vida que ainda lhes resta. Confrontam-se, assim, com a finitude da vida e com tudo o que isso implica.

«O que fazer com o resto da nossa vida? É a questão dominante das redes sociais», é a notícia de abertura do telejornal. E, a partir daí, conhecemos personagens, que Ea “recrutará” como seus apóstolos, que espelham a tomada de consciência do tempo, da angústia da sua escassez ou da sua alargada fruição sem que lhe esteja associada qualidade. O exemplo paradigmático é o de Kevin, um jovem que desafia a morte em saltos arriscados, pois ainda lhe restam 62 anos. Ironicamente, termina o filme vivo, mas com parca qualidade, engessado da cabeça aos pés.

Em suma, e subtraindo a comédia mordaz, o que podemos reflectir com este filme?

  • O tempo de vida é um bem precioso cuja duração desconhecemos.

  • A vida não é completamente controlada por acontecimentos externos e leis universais, cabendo a cada um de nós a responsabilidade pela acção a tomar face às circunstâncias:

  • Quando o telefone toca e estamos na banheira, podemos optar por ligar mais tarde;

  • Quando a fila do lado anda mais depressa, posso mudar de fila ou simplesmente aproveitar o tempo para descansar e dedicar a pensamentos positivos.

  • Perceber que há “deuses” sentados em computadores a emanar “leis”, e que nos cabe a responsabilidade de as analisar, interpretar, aceitar ou indeferir.

  • Conhecer, com consciência, as nossas necessidades e expectativas é uma base essencial para projectar o futuro.

  • Investir em percursos que nos motivem e nos façam desfrutar da vida com qualidade é uma forma saudável de usufruir do crédito de vida (que desconhecemos).

  • Somos responsáveis pelas nossas escolhas de tempo.

  • As escolhas individuais são um direito.

  • As escolhas individuais e colectivas são aprendizagens, independentemente de serem boas ou más.

  • O tempo é aqui e agora: devemos estar conscientes de que tudo o que fizermos agora tem uma repercussão no após.

Porque as imagens valem mais do que simples palavras, partilho aqui o trailer oficial.

Termino citando Séneca: “Apressa-te a viver bem e pensa que cada dia é, por si só, uma vida.”

Este artigo foi escrito ao abrigo do antigo Acordo Ortográfico. Revisão de texto realizada por José Ribeiro

 
 
 

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