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O mesmo sol que derrete a manteiga endurece o barro

  • Foto do escritor: Sandra Dias
    Sandra Dias
  • 20 de ago. de 2018
  • 2 min de leitura

Os provérbios, por vezes, falam das circunstâncias e das reacções que se lhes seguem. Este provérbio, que nos chega da Índia, é um exemplo dessa relação.

Ao longo da nossa existência estaremos sempre sujeitos ao sol, considerando que este elemento faz parte do ciclo da vida. O sol, aqui entendido em sentido figurado, pode ser percepcionado como as circunstâncias da vida a que estamos sujeitos.

No que respeita ao sol, somos alheios à sua existência, pois, independentemente do nosso estado de espírito ou vontade, este nasce todos os dias. Muitos acontecimentos da nossa vida têm a mesma natureza e “nascem” independentemente da nossa vontade, sem que tenhamos o poder de agir na sua origem.

O que está à nossa responsabilidade é a essência de que somos feitos e a reacção que vamos desencadear face aos acontecimentos. Podemos sempre escolher ser manteiga ou ser barro, sem que isso signifique que um elemento é melhor do que o outro.

Escolher ser manteiga ou barro é uma opção que assiste a cada pessoa, muitas vezes dominada por processos inconscientes, que não são reflectidos e analisados, pois entramos numa espécie de “piloto automático” que desencadeia reacções que, na maior parte das vezes, têm um carácter de protecção individual. E neste percurso, residualmente reflectido, em formato de reacção automática, esquecemo-nos, muitas vezes, de procurar uma “sombra” para que possamos de forma mais tranquila racionalizar, analisar e autoquestionar.

Apesar da abundância de informação e recursos disponíveis para lidar com contextos de sol tórrido, vivemos num mundo assoberbado pelo imediatismo e somos por vezes conduzidos a acções imediatas, frequentemente sujeitas a um juízo alheio. Se optamos pela manteiga, somos fracos, e se optamos pelo barro somos indiferentes. Nunca haverá um comportamento validado por todas as partes nem creio que isso seja o mais importante.

O que é importante é que quem viva as situações seja capaz de analisar a situação, interpretar o quadro emocional associado e preparar cenários de acção em detrimento de reacção prolongada e inerte.

Acredito cada vez mais, pela pesquisa, experiência e partilha com pessoas extraordinárias que têm cruzado a minha vida, que o Ser Humano tem um património interior poderoso, a que chamo muitas vezes "Kit”, e que nos pode permitir uma existência mais consciente, mais equilibrada e reflexiva. Muitas vezes, esse "Kit é esquecido ou escondido por uma questão que se prende apenas com emoções – pela vergonha ou pela culpa do que os outros vão pensar. Aceitemos que os outros vão sempre pensar algo, exercendo a fantástica virtude que assiste ao Ser Humano – pensar.

A quem vivencia o sol, assiste a fantástica virtude acrescida do sentir, pensar e agir. Escolher ser manteiga ou barro é uma opção individual. Retenhamos a consciência de que o sol manterá a sua natureza autónoma e nascerá todos os dias. Procuremos a sombra ou arquitectemos um abrigo, se for necessário, e escolhamos o que mais nos servir.

Por inexplicável que possa parecer, e citando Carl Rogers, “quando me aceito como sou, posso então mudar”.

Este artigo foi escrito ao abrigo do antigo AO Revisão de texto realizada por José Ribeiro

 
 
 

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